segunda-feira, abril 06, 2009

A difícil condição de ser doente

Hoje entrou-me pelo gabinete uma senhora de robe azul. Velhinha. Disse-lhe, a senhora está enganada. Estou, não estou? Está, disse-lhe eu. Para onde é que a senhora quer ir? Para a minha aldeia. Levantei-me e fui levá-la em direcção ao sítio donde muito provavelmente saiu. Fico sempre muito atrapalhada com respostas destas. Há uns tempos, outra senhora andava à procura do advogado. Fico atrapalhada porque me lembro da nossa fragilidade. Pensando agora nisso. Também me lembra a difícil condição de ser doente. A primeira vez que li isto foi há muitos anos. A difícil condição de ser doente. Escrito por um cirurgião, na altura já jubilado, num livrinho fino, esquecido e empoeirado numas estantes. Tinha 22 anos, eu. E, desde que li aquele livrinho que falava dos doentes, mudou o meu olhar sobre este homem. Que, num desses dias, também ele velhinho, a passar no corredor, me viu, e perguntou. Que idade tens? 22, respondi. Está bem, disse-me ele.

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