quinta-feira, março 25, 2010

Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão
Porque os outros se calam mas tu não
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo
Porque os outros são hábeis mas tu não
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Pouca poesia me consegue atingir. Não é por nada, é só porque gosto da verdade, da verdade das palavras. Quando lemos Camões estamos a ler palavras verdadeiras. A tentar entendê-las. Ary dos Santos ou Natália Correia. David Mourão-Ferreira. Sophia podia estar aqui a falar do pai, de um irmão ou de um amigo. Mas é sobre o seu amor, que ela escreve. Escrevendo e fugindo das habituais banalidades. E eu gosto muito do que se diz aqui.

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